A minha mãe tem alturas que está triste, deprimida e revoltada com o que lhe aconteceu e com a sua situação. Tem alturas que se apercebe que está diferente, com menos capacidades. Já me disse coisas como "ai como era tão independente e com energia e como eu estou" ou mesmo coisas que me partem o coração como "queria fechar os olhos" ou "não estou aqui a fazer nada". Só eu sei como doem.
Ora o que tem acontecido é que tal como costuma acontecer nos doentes de Alzheimer o principal cuidador é a preferencial vítima a quem os doentes dirigem a sua tristeza e frustração. Tem alturas que o leva a chatear o meu pai que é assim e assado e que a casa é dela e o que ele faz ali em casa e que ela é que faz tudo e que ele não faz nada. Devaneios e o escape da frustração dela. Tem alturas que quer falar comigo e insiste para o meu me ligar e diz que está tudo muito mal e está com o inimigo e está perdida na vida, chegando até a dizer-me que quer ir morar comigo (impossível pois eu trabalho).
Sempre que posso vou logo lá, levo-a a passear ou ao shopping e rapidamente se cansa e quer voltar à zona de conforto que é a casa, para não falar que começa logo a perguntar pelo meu pai. "O teu pai", "ai o teu pai já deve estar preocupado", "ai o teu pai coitado ficou em casa", "liga ao teu pai" várias vezes. Normalmente depois quando o vê, lá vai ter com o seu Joãozinho e dar abraços e beijinhos... É assim...