sábado, 31 de março de 2012

Sábado, 31 de Março de 2012

Escrevi no facebook...

 Hoje é sábado dia 31 de Março de 2012. Não é dia da mãe nem do pai. Mas é um bom dia para lhes dizeres o quanto gostas deles e o quanto são importantes para ti. Quando foi a última vez que o fizeste? Temos tendência a tomá-los como certos na nossa vida pois sempre estiveram presentes em tudo desde que nasceste, mas tens-te apercebido que tal como tu tens crescido, os anos tb têm passado por eles? Só te apercebes disso quando algo abala o teu mundo e as coisas como as conhecias se alteram. Hoje é sábado dia 31 de Março de 2012. Mas há quem não faça a mínima ideia disso. Mas se me perguntar eu digo. Porque quando eu me sentia perdida tb esteve sempre ao meu lado e a responder às minhas perguntas.

terça-feira, 20 de março de 2012

Novo neurologista

Em Março e após os últimos acontecimentos resolvi levar a minha mãe a outro neurologista. em Faro, Dr. Mário Apolinário.
A ida foi feita com muitas reclamações a dizer que não está doente e a tratamos como uma criança, etc, etc
Mas gostei e gostámos muito.
Muito divertido, bem disposto, à vontade, foi fazendo perguntas a minha mãe sobre ela, donde era, etc Perguntem à minha mãe donde é ou das origens dela que a sua cara ilumina-se: sou do Porto! diz ela orgulhosa, "as minhas origens são do Porto". Só por isso já ajudou a conquistá-la. Foi feito um mini teste, que consistia nalgumas perguntas e pedir para fazer algumas tarefas.
Foi avassalador para mim aperceber-me que a minha mãe não sabe em que mês estamos (ok dia da semana ou do mês sabia que ela não sabia) ou estação do ano quando o médico perguntou, mas quando ela responde que estamos no ano de mil novecentos e...... e... atrapalhada admite que não sabe, caiu-me tudo.
Fico toda chorosa a tentar disfarçar.
Quando o médico pede para escrever qualquer coisa num papel, ela atrapalha-se toda a escrever e escreve com dificuldade "qualquer coisa" entre outros exemplos de pequenos testes que ela não conseguiu realizar.
Sobre as minhas queixas e do meu pai de não conseguirmos que ela tome a medicação, o médico escreve num papel "Comprometo-me a tomar os comprimidos para não me esquecer tanto" e pede que assine. Ela diz convicta que sim vai tomar e assina, com dificuldade.
Apesar da consulta ter corrido bem não foi fácil para nenhum de nós, ter de explicar as coisas ao médico e as "falhas" dela com ela presente não foi fácil, nem vê-la toda atrapalhada e triste por não conseguir fazer ou responder o que lhe pediam. Não consigo sequer imaginar a tristeza e confusão que deve sentir, sem perceber porque não consegue fazer coisas que sempre fez ou lembrar coisas simples.

Mas balanço positivo, pelo menos não é como a anterior neurologista que não tinha qualquer interesse nem na paciente nem na família. Este além de ter feito este mini teste que a outra nunca fez, ainda deu folhetos e indicou a associação Alzheimer Portugal, que obviamente conheço mas cá em baixo não se passa nada

quinta-feira, 15 de março de 2012

O corte no dedo

Cortei-me no dedo da forma mais estúpida. Estava a cortar curgetes no ralador e embora já estivesse quase no fim e só tivesse um bocado pequeno, pensei "ah já agora faço tudo" sem usar a peça branca para segurar e que evita cortes. Resultado: cortei uma postinha do polegar direito. Mesmo um bifinho. Sangrou imenso, tive de enrolar o dedo num pano de cozinha.

E liguei ao meu pai, que talvez fosse melhor ir ver disto. Ele disse que vinha e que a minha mãe que já estava para se deitar ficava. Veio fomos ao posto de enfermagem mas já estava fechado pois eram 9 e tal da noite. Pensei então ir ao hospital privado, pois tenho ADSE e o público nem pensar pois a última coisa que me apetecia era lá ficar horas. Ligámos a minha mãe do meu e do telemóvel dele e ela não atendeu. Então antes de irmos ao hospital, passamos por casa para ver dela. Eu fiquei no carro o meu pai subiu e quando voltou disse que ela não estava a falar, estava na cama acordada com má cara mas não queria falar. Eu subi então.

"Mãe então como estás? Já viste a asneria que eu fiz, cortei-me e tirei um bocado do dedo?" Nada. "Sangrou imenso e fomos ao posto de enfermagem mas estava fechado. Vamos agora ao hospital, mas quisemos ver como estavas." Nada. "Mãe o que se passa? Não vês que eu precisei de ajuda e o pai foi ajudar-me?" Nada. Eu que já estava nervosa não me aguentei e comecei a chorar. "Mãe fala comigo! Mãe o que foi?" Nada. Só disse depois que o meu pai é que era o culpado. "Mas culpado de quê? Não vês que eu precisava de ajuda?" Nada. E eu a chorar descontrolada. Só passado um bocado a minha mãe me diz quase a chorar "Não chores." Apenas isto.

Tenho a dizer que este momento foi dos mais duros. Apercebei-me que tinha a minha mãe à minha frente mas não tinha. Ela estava num mundo dela a que eu não estava a conseguir chegar. Estaria chateada com o meu pai por ter saído? Sentir-se-ia abandonada por ele me ter ido ajudar? Não sei, mas seja o que for não era a minha mãe naquele momento. A minha mãe como era, como sempre foi, teria feito perguntas sobre o corte, se estava bem e ficaria preocupada. Não a culpo claro sei que é a doença, mas é uma sensação de vulnerabilidade, de me sentir desprotegida pois toda a vida a minha mãe se importou muito com tudo que me acontece. Fiquei arrasada nessa noite.

Lá fomos ao hospital e eu a chorar o tempo todo e o meu pai a dizer para ter calma, que tínhamos de ser fortes, etc

No dia a seguir, ele disse-me que ela tinha acordado muito bem disposta como se nada fosse, nem aquele incidente se tivesse passado. Esqueceu. E ele cometeu o erro de lhe falar no assunto "Então ontem que se passava contigo, que a tua filha saiu daqui a chorar por não falares com ela? Ela fez um corte muito grande no dedo e fui levá-la ao hospital." Resultado: a minha mãe começou a chorar e ficou triste. Claro que o meu pai se apercebeu logo que não devia ter dito nada.