quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O perceber que algo não estava bem


2009 e 2010 acho que já se começava a notar que algo não estava muito bem. O perguntar várias vezes a mesma coisa, ela que era pessoa de limpar o que estava limpo e sempre cheia de energia começou a desleixar-se nas coisas da casa, cozinhar sempre as mesmas coisas pouco variando, o quando eu e o meu ex íamos lá comer ser uma confusão para ela e gente a mais.

Fim de 2010 achámos melhor ir a um neurologista para ver dos esquecimentos. Falou em demência gradual que poderia evoluir para Alzheimer. E passou medicação que a minha mãe, que sempre foi anti medicamentos nunca tomou. Como essa neurologista era em Lisboa nem sempre eu podia ir, mas uma vez tentei ligar antes da consulta para lhe contar as coisas como eram, pois a minha mãe sempre atenuava tudo e dizia que era normal e estava tudo bem, mas não consegui falar com ela. Mas também depois vi que nem tinha feito diferença quando o meu pai me disse que da "próxima não valia a pena levá-la pois era só passar a medicação". Passei-me com a falta de interesse nela e em nós familiares e desde então tem sido segida em Faro pelo dr. Mário.

Bem como tinha dito o perguntar as coisas várias vezes, o fazer confusão grandes alterações do quotidiano, a gradual apatia com a casa, o sair de casa e conviver cada vez menos (por não conduzir e por não gostar de pedir boleia nem andar de autocarro) preocupavam-me.
Eu sempre tentei nos últimos 7 anos que ela se inscrevesse nalguma actividade ou ginástica de manutenção mas nunca quis.

Também tentei há uns anos convencê-los a mudar para o centro da cidade onde a minha mãe podia sair e estar com pessoas sem depender de transporte mas a ideia foi recusada por ambos.
Fomo-nos apercebendo do acumular de coisas como papelinhos numa gaveta do wc, de embalagens da carne, das tacinhas dos patés dos cães e de um ou outro disparate como por exemplo esparguete com arroz. A mim fazia-me também confusão o caos que a casa se estava a tornar e se dizia alguma coisa ou ficava toda ofendida "manda na tua casa que eu mando na tua" ou "era o que faltava vires dar palpites" ou um irónico "não queres vir limpar?". Sinceramente acho que parte de 2011 o meu refúgio foi não ir lá muitas vezes pois incomodava-me ver o rumo que as coisas estavam a tomar. Aliás nesse ano viajei bastante (Barcelona, Bristol, Sardenha, Suiça e Irlanda e Irlanda do Norte, mais do que tinha viajado a vida toda) e foi também um ano de crescimento interior pois tinha feito alterações na minha vida no ano anterior terminando um relacionamento de 8 anos.

Em meados de Outubro (ver o post Banho de realidade) parece que acordei e finalmente aceitei que realmente a minha mãe tem Alzheimer, tinha feito exames e tudo apontava para isso em conjunto com os sintomas (embora seja uma doença cujo diagnóstico certo só com necrópsia a tecido cerebral). Tento não me sentir mal com isso, pois é um facto que os familiares de pessoas com Alzheimer tem dificuldade em aceitar e tentam refugiar-se em "é normal, é da idade". Mas não, não era normal nem da idade. Aliás a minha mãe até é nova, pois costumam ser pessoas mais velhas com isto, embora cada vez mais vá atingido pessoas mais jovens, a partir dos 60.

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