terça-feira, 18 de setembro de 2012

Como eu me sinto

Já devo ter dado umas pistas de como me sinto perante certas situações. Vou falar como me sinto no geral.

Para começar digo: Não é fácil!

Tem alturas que me sinto muito em baixo, sem energia e que não consigo dar conta do recado. Tento passar tempo com os maus pais, tirar a minha mãe de casa mas sinto quase sempre que não faço o suficiente. Quero ajudar em coisas na casa deles, despachar a roupa a mais que têm, dar uma volta na garagem que está atolada de tralha do meu pai, ajudar a vender umas jóias que nem a minha mãe nem eu vamos usar, vender os milhentos livros que herdámos há uns anos e não consigo chegar a fazê-lo na verdade. Tudo me parece demasiado difícil ou trabalhoso e que não dou conta do recado.

Tenho a minha cabeça a mil e isto tem-se vindo a reflectir em mim e na minha própria casa. Não consigo arrumar os roupeiros do quarto do fundo e do escritório nem a montanha de papelada que tenho de escolher o que guardo e o que reciclo, coisas que bem preciso fazer, mesmo para tornar a casa mais harmoniosa e tanto eu como o John nos sentirmos melhor. Quero fazer as coisas mas tudo me parece uma coisa gigantesca e que não tenho tempo. Também eu que sempre gostei de fazer mil coisas, actividades e ar livre, aí desde Março tenho vindo a recolher-me um pouco mais em casa. No entanto isto é para mudar! E o John tem ajudado muito :)

Quanto a situações concretas com a minha mãe... Não é fácil conseguir dar sempre a resposta certa ou ter a melhor atitude em situações que não nos são normais. Tenho dificuldade em engolir a minha tristeza e frustração em certos momentos e recrimino-me pensando que devia ter dito assim ou não devia ter feito assado. A verdade é que ninguém nasce ensinado. E eu estou a aprender a lidar com isto. E estou a aprender a lidar com isto numa idade em que a maioria das pessoas da minha idade não têm de lidar com isto. Ou se lidam, lidam com avós com esta doença, não uma mãe. Têm pais activos, alguns ainda a trabalhar, pais que ajudam a tomar conta dos netos, etc Eu não, não tenho nem vou ter. Sinceramente acho que deve ajudar um bocadinho a quem esteja na minha situação e já tenha tido filhos. Vai aprendendo a educar, a guiar, a como responder às situações. Ao fim e ao cabo por vezes tenho de pensar na minha mãe como uma criança. Mas é a minha mãe! Eu não estava preparada para ser mãe da minha mãe, aos 29 anos. Aos 29 anos está-se preparada (mais ou menos) para ser mãe de uma criança é esse o decorrer normal da vida, não assim.

Penso também que se tivesse irmãos (que eu sempre quis) seria tão bom! Ter alguém que ajudasse e sentisse o mesmo que eu, que pudéssemos partilhar e deabafar. Porque por mais que eu explique e que me ouçam e compreendam, não poderão compreender, pois só quem vive isto é que pode compreender. Sempre disse que jamais teria um só filho e ainda mais afirmo isso. Além da cumplicidade, partilha de momentos irmãos (normalmente, claro que há irmãos que não se dão e detestam) podem partilhar momentos difíceis e serem ponto de apoio.

Portanto não tem sido fácil não. Tenho algum receio do futuro. Mas tento não pensar muito nisso. Mas Alzheimer vai sempre para pior e chega uma altura que as pessoas deixam de conhecer a família ou que começam a colocar-se em perigo, esquecem como comer, falar, andar, ir ao wc, etc Claro que isso me preocupa. E como me sentirei eu um dia se a minha mãe não souber quem eu sou? E o meu pai? Tem sido sempre uma preocupação, pois ele tem alturas que está exausto e eu não posso deixar que ele se afunde, aliás por isso mesmo tenho sugerido ir uma pessoa lá a casa para dar apoio à minha mãe e à casa. Até já tenho preços. Mas ele tem-se recusado dizendo que entretanto vai dando conta.

Vou fazendo o melhor que consigo. Mas sinto-me imperfeita e perdida. Tenho aprendido a como lidar com esta situação, adaptado a esta nova relação de mãe e filha que ajuda a dar banho, a cuidar, dá colo, etc Mas ainda tenho muito que aprender...

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