segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O voltar das férias e o funeral do meu avô

Estive de férias com o John. Costa alentejana, Zambujeira, Porto Covo, Lagoa de Santo André, Tróia, ferry a Setúbal, Arrábida, Portinho, Sesimbra, Lisboa, Sintra, Ericeira, Cabo da Roca, Évora foram alguns dos locais. Soube muito bem :)

Quando cheguei já o meu pai tinha avisado que o meu avô João (pai do meu pai) estava no hospital. Não me tinha era dito que estava mal. Cheguei de noite já tarde e lá fui na hora de visita vê-lo. Estava inconsciente e numa sala onde nunca tinha estado. Era a quarta vez que o meu avô estava no hospital este ano. 92 anos. A anterior ele tinha estado todo reguila, a querer ir para o centro, recusou-se a dar urina para análise e a reclamar por lhe porem as grades laterais na cama que o impediam de ir ao wc sem chamar alguém, pois não o queriam de pé.

Pronto mas desta vez estava inconsciente e custou-me muito. Os meus pais também tinham lá ido e era a primeira vez que os via depois das férias pois tinha chegado já tarde no dia anterior. Olho para a minha mãe com atenção e tinha um chinelo num pé e um sapato no outro! Falei no assunto, ficou toda atrapalhada até porque reparei logo nas unhas dos pés enormes e eu que pensava que o meu pai tinha tratado disso. Bem sei que é complicado estar atento a todos os pormenores. Peço à minha mãe para pedir ajuda quando não consegue fazer uma coisa e lá vamos a caminho de casa para a fazer tomar um duche para o meu pai poder cortar as unhas. Tinha acabado de vir de férias e foi logo um banho de realidade, um voltar ao caos que é por vezes a minha vida.

Quanto ao meu avô desta vez vi logo que era diferente. Sempre inconsciente, diziam-nos que o estado era delicado, os rins estavam a deixar de funcionar, etc Fartei-me de chorar já a antever o que se ia passar. Faleceu no domingo de manhã, o meu pai ligou-me. Eu tinha sido a última pessoa a vê-lo, a falar com ele e fazer festinhas. Não sei se ele sentiu ou não, nunca se manifestou. Talvez por já ter chorado bastante antes, não chorei muito com a notícia, ao fim e ao cabo já estava à espera.

Passado um pouco de o meu pai me ter dado a notícia, vou a casa dos meus pais. A minha mãe estava impossível! A implicar com o meu pai, que era isto e aquilo, coisas dela, o direccionar da tristeza a frustração dela com a doença para o principal foco que tem sido sempre o meu pai. Digo que a levo para minha casa e para almoçarmos juntos, para ele ter tempo para fazer o que quiser sozinho e depois ir lá ter. Achei que precisava de estar sozinho sem a minha mãe a chatear e contra ele. Lá fomos. Claro que passado um bocado já ela estava a perguntar mil vezes por ele. Eu expliquei que estávamos num momento difícil e que agradecia muito a colaboração dela e para não chatear o pai. Quando ele chegou já estava toda abracinhos e beijinhos. Normalmente quando ela está nas crises contra ele se a levar embora por um bocado começa logo a perguntar por ele e depois quando o vê é só mel. Normal em doentes de Alzheimer. Principal cuidador leva com a fúria da pessoa se ver assim, mas ao mesmo tempo tem uma relação muito dependente.

Almoçámos lá em minha casa, tudo bem. Passado um pouco começa o "quero ir para casa" e o "vamos para casa" mil vezes. O meu pai estava a gostar de estar e relaxar, sentado no sofá a comer gelado e a minha mãe sempre a querer ir para casa. Começa a ficar nervosa e agitada por não fazerem o que queria e sai-me escadas abaixo. Vou atrás dela e tento impedi-la e parar. Não quer subir de novo, sentámos nas escadas do prédio. Como convencê-la a subir? "Mãe estava a pensar que o John ainda não conhece Alcalar (a quinta onde viveu com os meus avós uns anos e o meu avô vendeu era eu pequena) queres ir msotrar-lhe?". Resposta dela "Ai gostava muito de lá ir, achas que ele gostava de ir?" "Claro que sim, vamos subir e perguntas-lhe?" E lá consegui que subisse e acalmasse.

"John queres ir a Alcalar ver uma quinta que foi nossa?" disse ela. Pronto lá fomos nós ao passeio que demorou grande parte da tarde. A minha mãe toda entusiasmada. "Ali mora o Chico" "Esta casa era do Zé Manel". Lá está, memórias antigas permanecem. No entanto chegou um ponto em que ficou confusa e disse que a seguir eram as Alfarrobeiras e a Donalda, ora isso é a seguir à casa dos meus pais, não de onde estávamos.

Mas foi um passeio positivo para apaziguar as coisas e distrair, especialmente tendo em conta o momento.

No dia seguinte, dia do funeral não começou bem. O meu pai liga, estava a fazer a bainha das calças (está quase uma fada do lar, tem de se desenrascar) e ouço a minha mãe blablabla a resmungar com ele e ela e reclamar que nem se conseguia concentrar. Felizmente a minha tia foi lá e acalmou-a.

De tarde no funeral, a família reunida, embora seja família pequena. Felizmente a minha mãe portou-se muito bem e andou sempre de mão ou braço dado com o meu pai, ou comigo. Tentei aguentar-me, algumas lágrimas mas fiz-me de forte.

Vou ter saudades tuas avô!

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